Suplementação Vitamínica em Doenças Oculares
14/12/2018 | Postado em Saúde e bem estar

SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA EM DOENÇAS OCULARES

 

A IMPORTÂNCIA DA VITAMINA A

 

Vitaminas são nutrientes necessários ao corpo, mas não são fabricadas pelo organismo. A vitamina A, ou retinol, por exemplo, é um micronutriente essencial e pertence ao grupo de vitaminas lipossolúveis. Conhecida pela composição antioxidante, fortalece o sistema imunológico e protege a pele1. A substância desempenha, ainda, um papel crítico na formação e na manutenção do coração, pulmões, rins e outros órgãos, como os olhos.

Segundo Dr. João Luiz Lobo Ferreira, oftalmologista e doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a dieta rica em vitamina A é fundamental

para a saúde do organismo. “Considerando que sintomas da hipovitaminose A acometem a visão, faz muito sentido a percepção das pessoas em relação a sua importância para a saúde ocular”, afirma, levando em conta o conceito difundido entre a população de que a vitamina A é benéfica aos olhos. Condições como dificuldade na adaptação ao escuro e referentes à cicatrização sugerem deficiência de vitamina A. “É importante o monitoramento periódico dos níveis séricos de vitamina A, principalmente em idosos”, recomenda o médico. Isso acontece pelo fato de o organismo dos pacientes mais velhos serem mais vulneráveis aos efeitos dessa deficiência.

CARACTERÍSTICA DA VITAMINA A

Dr. Lobo explica que a vitamina A existe em três estados: álcool (retinol), aldeído (retinal) e ácido (ácido retinoico). Essencial para a visão, a vitamina A necessita estar disponível como precursor 11-cis retinal para a regeneração da proteína rodopsina.

Carotenoides são substâncias químicas do tipo pigmento, encontradas no plasma humano. Apenas dois, de 34 carotenoides, estão presentes na retina: luteína e zeaxantina, conhecidos como pigmentos maculares. Estão mais concentrados na fóvea e são antioxidantes importantes dessa região, pela presença de ácidos graxos poli-insaturados nas membranas dos fotorreceptores. “Ocorre, ainda, uma limitação do dano oxidativo pela ação filtrante da luz azul”, explica o especialista. Nesse espectro, há uma redução de 40% da incidência dessa luz nos fotorreceptores.

Entre outros benefícios, o retinol protege os lipídios da oxidação, reparando células de danos oxidativos. Também há redução do risco de desenvolvimento da degeneração macular relacionada à idade (DMRI) em pessoas que consomem alimentos ricos em vitamina A. Além disso, os pigmentos maculares diminuem de forma inversamente proporcional à idade. “Tabagismo, cor clara da íris, sexo feminino e aumento da densidade do cristalino também estão associados à concentração mais baixa de pigmentos maculares”, complementa o médico.

DEFICIÊNCIA E HIPERVITAMINOSE

A deficiência de vitamina A é comum em países em desenvolvimento e permite que doenças infecciosas oportunistas, como sarampo e pneumonia, tornem-se letais3. “A hipovitaminose A é uma das síndromes de deficiências vitamínicas mais comuns, sendo uma das causas da cegueira”, detalha Dr. Lobo. Além da carência na alimentação, mais frequente em pessoas de baixo poder aquisitivo, esta deficiência pode estar ligada às síndromes de má absorção de gorduras, incluindo pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, assim como ao abuso de laxantes contendo óleo mineral, mais frequente entre idosos.

Nos países em desenvolvimento, a deficiência de vitamina A começa, tipicamente, na infância, quando os bebês não recebem suprimentos adequados de colostro ou leite materno. A diarreia crônica também pode levar à perda excessiva de vitamina A em crianças pequenas4. “O sintoma mais precoce é a cegueira noturna”, afirma o especialista. Olho seco com conjuntiva ressecada e desenvolvimento de pontos branco-acinzentados na conjuntiva (manchas de Bitot) são sinais precoces dessa deficiência. “Ulceração e necrose da córnea, perfuração da córnea, endoftalmite e cegueira são manifestações mais tardias. Xerose e hiperqueratinização da pele e perda do paladar também podem ocorrer”, acrescenta Dr. Lobo.

Apesar desse cenário, a maioria das pessoas obtém vitamina A suficiente em suas dietas. No entanto, o médico pode sugerir suplementos de vitamina A para aqueles que apresentem deficiência do nutriente5. As pessoas com mais probabilidade de ter deficiência de vitamina A são as com doenças nutricionais (como distúrbios digestivos) ou dietas muito pobres6.

Segundo Dr. Lobo, como a vitamina A é lipossolúvel, pode se acumular no tecido adiposo, diferentemente das vitaminas hidrossolúveis, que não se acumulam no organismo, por serem eliminadas pelos rins. Os sintomas da hipervitaminose A, após ingestão súbita e maciça, podem ser agudos: pele seca e descamação, perda de cabelo, desconforto bucal, hiperostose com dor, anorexia e vômitos. “As alterações mais graves são hipercalcemia, aumento da pressão intracraniana e papiledema, cefaleia, cognição diminuída, hepatomegalia, que pode progredir para cirrose, e aumento da chance de fraturas”, acrescenta o oftalmologista. Além disso, a hipervitaminose aguda pode resultar em quadros como náusea, vômito, dores abdominais, cefaleia e letargia. O tratamento, nesse caso, é a não ingestão da vitamina.

Quanto ao uso de suplementos vitamínicos, Dr. João Lobo julga ser um desafio na Medicina translacional, isto é, colocar na prática, após estudos. “O uso dos complexos vitamínicos (vitamina C e E) e minerais (zinco e cobre), juntamente com os carotenoides L/Z (luteína 10mg e zeaxantina 2mg), após o estudo AREDS 2, é uma referência importante, baseada em evidência para os pacientes com DMRI intermediária ou avançada em um olho”, acrescenta Dr. Lobo7.

 

REFERÊNCIAS

1. Longe J. Th e Gale Encyclopedia of Alternative Medicine: A-C. 2 ed. Ann Arbor: Th omson Gale; 2005.

2. Beatty S, Koh H, Phil M, Henson D, Boulton M. Th e role of oxidative stress in the pathogenesis of age-related macular degeneration. Surv Ophthalmol. 2000, 45(2):115-34.

3. Institute of Medicine (US) Panel on Micronutrients. Dietary Reference Intakes for Vitamin A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Chromium, Copper, Iodine, Iron, Manganese, Molybdenum, Nickel, Silicon, Vanadium, and Zinc. Washington DC: National Academies Press; 2001.

4. Daulaire NM et al. Childhood mortality aft er a high dose of vitamin A in a high risk population. BMJ (Clinical research ed). 1992;304(6821):207-10.

5. UNICEF. Vitamin A Supplementation: A decade of progress. 1 ed. Nova Iorque: Unicef; 2007.

6. Glasziou PP et al. Vitamin A supplementation in infectious diseases: a meta-analysis. BMJ (Clinical research ed.). 1993;306(6874):366-70.

7. Chew E et al. Th e Age-Related Eye Disease Study 2 (AREDS2): Study Design and Baseline Characteristics (AREDS2 Report Number 1). Ophthalmology. 2012;119(11):2282-9.

 

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